segunda-feira, janeiro 28, 2008
ACONTECEU NUM TEMPO QUE SE PERDEU NO VENTO
A esperança era constante de musicalidade e sons de risadas que chegavam da cozinha. Nunca soube o que motivava tantas conversas risonhas, até o dia em que os soluços as substituíram. E, ávida, a vida fez-se mais real e passa a ser alguma coisa que se precisa suportar. As tardes, agora, já não se esvaiam em correrias e brincadeiras infinitas e os pensamentos deixaram de ser pueris. Lágrimas são lagos de águas geladas. Despertam o corpo e aniquilam, temporariamente, o pensamento. Meninas calcem seus sapatos, vamos dançar a dança que rompe silêncios. Sua performance depende em parte dos seus sapatos. Estava displicentemente descalça e assim me encontro nesse momento.Tudo volta, mas não há retorno. Aconteceu num tempo que se perdeu no vento.
ZÉLIA CAVALHEIRO ( ASSIM ME NOMEARAM )
::Escrito por Madame Bovary as 09:07
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terça-feira, janeiro 22, 2008
FABRÍCIO CARPINEJAR... UM DOS MEUS FAVORITOS
POUSAR É VOAR COM ROSTO
Walter não é supersticioso.
Mas não arriscou colocar um espelho fora. Assim como não fotografa seu filho enquanto dorme. Ou não deixa o chinelo emborcado. Ou não coloca a bolsa no chão. Pequenos cuidados. Prefere não desafiar as crendices repassadas pelos pais. Pequenos respeitos.
Sem lugar nobre entre os móveis, pregou o espelho na varanda de sua chácara, entre duas janelas. Armou uma mesinha com pedras e compensados e descansou do problema.
Estive o visitando no último final de semana. Curioso é que vários pássaros pulavam das barras de madeira ao espelho. Aproximavam os bicos no reflexo. Admiravam-se. Batiam as asas e voltavam ao mesmo lugar.
Até as aves são narcisistas. Têm o céu à disposição, têm as alturas para esticar o corpo, têm as árvores como trapézios e se ajoelham a um pedaço de vidro. Em manhãs sucessivas, enfrentam o perigoso alarido humano, escapam dos cotovelos da conversa e conferem suas imagens no balcão.
As aves procuram o espelho porque são carentes. Até as aves.
A plenitude não nos completa; redobra a insegurança. Quanto mais amamos, mais a carência aumenta.
Minha mulher estará diante de mim a qualquer hora esperando que a observe. Ela não me testa. Sou seu espelho. Ela me procura para se reencontrar. Reencontrar a si: quem ela foi quando se apaixonou. Todo o dia deseja repetir a primeira vez em que eu a vi e ela se viu em mim.
Não estava linda para uma festa, para uma reunião, para um destino genérico. Estava linda para sua vida. Ela se percebeu desejada como se desejaria no futuro. Eu a desejei como ela já se desejou.
Minha mulher é essa ave que não pousará fácil. Circulará pela casa pedindo meu rosto. Uma exigência que não é chateação. Não é cobrança. Não é desespero. Criar uma modulação quando é natural se acostumar. Uma sutileza que despertará a ânsia do beijo, que trará lembranças e a tensão dos nervos.
Ela se esforça para impor diferenças. Uma sobrancelha desenhada, as unhas feitas, um brinco novo, um vestido recuperado, um sapato amansado de brilho.
Ai se não identifico. São tantas chances por dia para me apaixonar de novo. Tantas chances para devolver aquele olhar que me inaugurou como homem.
::Escrito por Madame Bovary as 15:07
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terça-feira, janeiro 15, 2008
Aqui e Agora Gilberto Gil
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui, onde indefinido
Agora, que é quase quando
Quando ser leve ou pesado
Deixa de fazer sentido
Aqui, onde o olho mira
Agora, que o ouvido escuta
O tempo, que a voz não fala
Mas que o coração tributa
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui, onde a cor é clara
Agora, que é tudo escuro
Viver em Guadalajara
Dentro de um figo maduro
Aqui, longe, em Nova Deli
Agora, sete, oito ou nove
Sentir é questão de pele
Amor é tudo que move
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
Aqui perto passa um rio
Agora eu vi um lagarto
Morrer deve ser tão frio
Quanto na hora do parto
Aqui, fora de perigo
Agora, dentro de instantes
Depois de tudo que eu digo
Muito embora muito antes
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
::Escrito por Madame Bovary as 18:11
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Embriaguem-se Charles Baudelaire
Aí está:
eis a única questão.
Para não sentirem
o fardo horrível do Tempo
que verga e inclina para a terra,
é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê?
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Mas embriaguem-se.
E se, porventura,
nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso,
na solidão morna do quarto,
a embriaguez diminuir ou desaparecer
quando você acordar,
pergunte ao vento,
à vaga,
à estrela,
ao pássaro,
ao relógio,
a tudo que flui,
a tudo que geme,
a tudo que gira,
a tudo que canta,
a tudo que fala,
pergunte que horas são;
e o vento,
a vaga,
a estrela,
o pássaro,
o relógio responderão:
"É hora de embriagar-se!
Para não serem os escravos martirizados do Tempo,
embriaguem-se;
embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
::Escrito por Madame Bovary as 17:57
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quinta-feira, janeiro 10, 2008
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo
HorrívelA essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas..
.Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!
Quintana
::Escrito por Madame Bovary as 13:21
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TODOS QUEREMOS AMOR
cada um quer o seu tipo de amor
e cada um cede ao outro o tipo de amor que possui
Meu Amor precisa ser doce
ter ouvidos generoso
alma aberta pra entender
que eu não preciso ser igual a ele para ser gente
que posso pensar por mim
mas acima de tudo meu amor precisa me amar
me amar como sou
e não me idealizar mas simplesmente me aceitar.
zelia
::Escrito por Madame Bovary as 13:11
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segunda-feira, janeiro 07, 2008
LEVANTARAM AS ÂNCORAS

::Escrito por Madame Bovary as 14:28
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quinta-feira, janeiro 03, 2008
Loucos e Santos Oscar Wilde
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
::Escrito por Madame Bovary as 11:05
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quarta-feira, janeiro 02, 2008
terça-feira, janeiro 01, 2008
ONDE ESTARÁ O MEU AMOR?
E o sol então rebrilhará
Estou pensando em você...
Onde estará o meu amor ?
Será que vela como eu ?
Será que chama como eu ?
Será que pergunta por mim ?
Onde estará o meu amor ?
Se a voz da noite responder
Onde estou eu, onde está você
Estamos cá dentro de nós
Sós...
Se a voz da noite silenciar
Raio de sol vai me levar
Raio de sol vai lhe trazer
Onde estará o meu amor ?
CHICO CÉSAR
::Escrito por Madame Bovary as 10:38
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